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Desde Agosto que não me atrevia a vir aqui. Passaram-se praticamente cinco meses. Eu sei, sou o expoente máximo da incompetência nisto de gerir, ou simplesmente ter, um blog". Mas enfim.
Nestes últimos meses (praticamente meio ano?, caramba), tive o meu primeiro emprego e recebi o meu primeiro salário. O que poderia ter sido uma história bem sucedida num jornal nacional, afinal estava condenado a deixar de o ser logo nos primeiros dias do último mês de 2015. Vi, numa segunda-feira muito longa de Dezembro, a empresa ruir e administrador(es) mandar(em) cerca de 120 pessoas para o desemprego. Um a um, como se de um casting para os Ídolos se tratasse e como se fôssemos todos umas canas rachadas, causadores de gravíssimas otites ao júri.
E o dia já nem era dia quando muitos ficaram a saber que estavam fora dos planos da empresa que iria substituir a que acabara de falir. O meu caso, contudo, não entra nessas contas por estar ao abrigo de um estágio profissional IEFP. Um estágio pelo qual esperei bastante tempo para que entrasse em vigor. O mesmo é dizer que trabalhei durante quatro meses (podiam ter sido muitos mais, eu sei) pro bono para ver, enfim, o contrato chegar e começar a receber um ordenado. Sabia que o esforço iria compensar. E compensou. Visto a esta distância, continuo a achar que compensou imenso, sobretudo a estrutura manhosa daquela empresa.
Sinto-me bem por não ter lá ficado. Ainda que me tivessem prometido um novo contrato IEFP. Claro, isso significava, como significa em qualquer empresa do país, com mais meses de espera para ver tudo aprovado. "Ah, é melhor que nada", "Não tens nada a perder. Fica!" ou "o desemprego dura ainda mais tempo do que esse tempo de espera", aconselharam-me alguns amigos.
Não quis. Preferi abandonar o bote (não é aquele navio de que para aí falam) sem qualquer colete salva-vidas. E estou muito contente por isso. Por não ter tido medo de ter de voltar a procurar emprego, voltar a enviar CV's (quase) todos os dias e a pensar, agora com mais conhecimento de causa, que o jornalismo talvez seja apenas uma miragem. E, se assim for, da minha parte não haverá qualquer drama ou ressentimento. A ansiedade e o stress associados ao jornalismo não são bem a minha cena. Disso tenho a certeza absoluta.
É do conhecimento geral dos que me lêem (não são muitos, mas ainda são alguns) que estou numa busca incessante por trabalho. De preferência na área em que me formei - jornalismo. Caramba, já penso na minha profissão desde os tempos de escola, desde o tempo em que escrevia para o jornal "O Estevinha", no meu 5º, 6º, 7º anos (?). Já lá vão muitos anos. Depois, além da licenciatura ainda levei com o jornalismo - ninguém me obrigou, que fique bem claro - durante mais dois anos de mestrado. Seguiu-se o estágio no PÚBLICO. A melhor experiência que poderia ter tido para dar início a todo um percurso profissional que aguardo, ansiosamente, que arranque a todo o instante. Já me passou pela cabeça fazer um desvio, procurando outras profissões/ocupações que me rendessem um salário. O dinheiro faz-me falta, a mim e a toda a gente, aos que o têm e aos que não têm rigoramente nada, sendo que me encontro no último grupo de sujeitos. Mas, quis o destino - e bem - que eu não mudasse de planos só porque o plano inicial está a demorar a desenrolar-se. Vamos ver o que vai acontecer nos próximos tempos. Parece-me que o futuro está aí a beter-me à porta, mais perto do que nunca. (Isto soa àquela publicidade da Caixa Geral de Depósitos, não soa? Mas não é.) Entretanto, pés bem colados à terra que as desilusões e as reviravoltas acontecem todos os dias. [respirar fundo]
Estou há longos minutos para escrever este post. Deixá-lo em branco seria mais condizente com o meu estado d'alma. Poucas palavras ou nenhumas se me ocorrem para qualificar o que hoje se passou em Paris. O jornalismo e a liberdade de expressão e, claro, a democracia foram severamente atacados, mas, acima de tudo isso está a própria vida dos que hoje perderam a vida. Dizer que a religião está por trás disto tudo é estar a ignorar que uma grande parte do mundo está muito doente, muito doente mesmo. No meu mundo, embora pouco ou nada crente me confesse, a religião não apregoa assassinatos. No meu mundo, a religião serve para dar sentido à vida e para saber aceitar a morte. O Mundo é muito grande, sim. Carregado de pessoas e religiões diferentes, mas duvido (muito mesmo) que haja alguma religião na qual os seus "fiéis" são mais "fiéis" por matar seres humanos, causando verdadeiro terror. No meu mundo, nada disto faz sentido. Mas, o outro mundo - acostumado a essas práticas bárbaras e que julgávamos tão distante do nosso - está cada vez mais perto de nós. Assustadoramente perto. Talvez esse mundo seja cada vez mais o nosso mundo. Talvez já nem seja uma questão de mundos...
Provavelmente já repararam na descrição deste blogue, na qual me apresento como "jornalista" (se não repararam, também não há problema). O entre aspas tem toda uma razão de ser. Não que não me considere digna da palavra na sua plenitude e não que pense que a deva utilizar com muita cautela e só depois de 50 anos de profissão - como muitos jornalistas com experiência acumulada julgam. Mas, porque na realidade sou uma jornalista sem posto de trabalho e, há falta de melhores palavras que descrevam a minha situação laboral (desempregada por si só não é muito elucidativo), arranjei-lhe umas aspas jeitosas, para não andar aqui a enganar ninguém. Jornalista com aspas dá logo para ver que estou desempregada. Sou jornalista em stand-by, é verdade, mas estou louca para despir estas aspas e desprender-me desta condição que, não sendo desesperante, anda lá muito perto.
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